Era sexta-feira a noite... na televisão, um clássico sobre artes marciais.
O roteiro era bem previsível... sobre um garoto que vingaria a morte de sua família... sobre o encontro e todo o processo de aprendizado com um mestre.
Ao final do filme... o clássico diálogo entre professor e aluno: "Muito bem Pequeno Gafanhoto... agora você pronto para aprender o grande golpe do dragão... ".
Este golpe, então, seria usado na última cena do filme... na última grande luta... transformando o pequeno aprendiz em algo maior e muito além do que jamais havia sonhado.
Mas... e no triathlon... esse golpe existe?
Leia "O Segredo do Golpe do Dragão" abaixo... ou acesse o link do Portal Mundotri.
O Segredo do Golpe do Dragão.
Quase 60 dias após o Ironman Brasil, lá estava eu, na Ponta Negra, no domingo, às 06h30min da manhã, para mais um (como tantos outros) treino de natação em águas abertas e de corrida.
Não preciso nem falar do espetáculo que é nadar ali. Pois, além da beleza do local e de estar no maior volume de água doce do planeta, o corpo de bombeiros instalou uma “raia” na água, paralela à praia, que serve para a proteção dos banhistas contra afogamentos e, para nós triatletas, como uma raia de natação com 400 metros de extensão.
Mas, esquecendo um pouco a valorização da minha terra, vou pular a parte da natação, colocar logo o tênis, partir para a corrida e dividir partes de um boa conversa e várias reflexões que tive, ao longo do percurso, com um parceiro de treinos.
Falávamos sobre melhorar nos treinos e nas provas.
Ele começou afirmando que percebeu uma melhora nas sensações do corpo de um ano para cá. Melhora na velocidade da corrida, na técnica de natação etc.. Complementei que sentia isso também! De forma lenta e gradativa, ano após ano.
Naquele momento, olhei para o relógio com GPS, o mesmo marcava 4:50/km. A respiração não era tão tranquila assim, mas dava para conversar. Lembrei-me que 4:50/km, há poucos anos, era o meu ritmo de intervalado nos 400metros.
Seguramos um pouco as palavras, pois começou uma leve subida e apertamos um pouco o passo (silêncio por uns 30 ou 40 segundos). Alguns metros depois, ficou plano novamente, e falei: “Quer saber algo interessante que aprendi sobre “melhorar” no Triathlon?”.
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Bom, no início, quando comecei a treinar, mesmo que inconscientemente, achava que existia um “segredo”. Algo que os principais atletas de elite (e os grandes amadores) tinham, ou praticavam em comum. Um conhecimento extra que os grandes técnicos possuíam. Algo que o meu técnico, um dia, revelaria para mim. Exatamente como naqueles filmes de Kung-Fu, quando no final, véspera da grande luta, o mestre olhava para o aluno e dizia com aquela voz serena e sotaque chinês: “Agora você está preparado para aprender o grande golpe do dragão”!
Confesso que acho que descobri esse tão importante segredo (ou parte dele). Nesses últimos anos, tive a oportunidade de conhecer e conversar com alguns grandes triatletas (muitos deles até ídolos). Além da simplicidade na abordagem do treinamento, existe, sim, esse “algo em comum” entre todos.
Não! Não se trata de um treino secreto! Nem de algo que se bebe ou que se come! Trata-se, simplesmente, de tempo, consistência e sabedoria!
Invariavelmente, eu escutei desses grandes atletas: “Eu treino há 15 anos sem parar…”; ou então: “Eu treino há 20 anos e nunca me lesionei” E quando finalmente pensei que ia ouvir algo diferente, alguém falou: “Eu durmo 10 horas por dia… ah sim! E treino há 17 anos”.
Tempo, consistência, sabedoria (no sentido do autoconhecimento e da ciência do treinamento). Conceitos nada complexos, porém, tantas vezes distantes em função do nosso imediatismo e da nossa falta de paciência e conhecimento.
Nesse momento, quase 1 hora depois, ainda correndo e mantendo os 4:50/km, virei para o amigo ao lado e disse: “É meu caro! O verdadeiro segredo talvez seja esse mesmo: poder, ano após ano, estar aqui recuperado após uma grande prova; treinando de forma qualitativa e consistente, com sabedoria, feliz, entre amigos e como consequência de tudo, cada vez mais rápido”.
Mas, em todo caso, vamos ficar em alerta! Vai que um dia o meu técnico (ou o seu) traga a grande revelação: “Dalton, agora você está preparado para o grande golpe do dragão!”
Bons treinos.